Entra no boteco suburbano, decorado com fotos P&B, bandeiras arco-íris e uma estátua do buda no canto do salão; passa pelas pessoas sentadas, perdidas entre doses de conhaque com limão, cervejas mais amargas que a média; entreolha os pares de all-stares, os moletons e os cachecóis xadrezes; sobe no pequeno palco usado vez ou outra para declamar poesias ao toque do violão; para e observa cada um dos presentes. Estes ao notarem a presença do rapaz cessam de assobiar bossa-nova. Ele estufa o peito de coragem e manda às favas as consequências, julgá-lo-iam incessantemente depois disso, mas não importava. Quando a batida indie da jukebox termina de tocar ele aproveita o silêncio coletivo para fazer a revelação fatídica em alto e bom som: - Meu CD preferido do Los Hermanos é o primeiro. Deixa o bar sem o brio de olhar pra trás e fitar os olhares de indignação.
Um universo, um pensar, um modo de agir, um círculo de amizades e principalmente uma personalidade não se cria. Se é. Se absorve, se constrói. O fato de se confirmar, a si e aos outros, não lhe faz mais dono de si. Apenas se é se se age não se se faz agir.