As pessoas me perguntam se eu quero mudar o mundo. Acho isso bobagem, ao menos no meu caso, visto que se eu quisesse mudar o mundo de verdade, eu começaria por mim. Daria um jeito nessa minha falta completa de organização e tentaria controlar a tempestade de ideias e de impulsos que me inquieta, a minha incapacidade em estruturar uma rotina pacífica e controlável seria extinguida. Mas isso não acontece. A despeito dos conselhos que me deram e que ainda vêm me dando, algo dentro de mim precisa lutar contra a vontade de facilitar as coisas na vida. Aliás, este substantivo só ganha sentido e condição quando lhe pareio aos desafios; viver vem sendo atrasar minhas decepções, para me sentir importante.
Pelo sentimento de que há algo ainda a terminar, que não adianta descansar porque ainda está pra chegar o mais difícil, que as pessoas estão me julgando, que eu falharei miseravelmente no que me propus a fazer, que não posso decepcionar quem depositou créditos em mim... sigo. Por mais que eu sinta por vezes exatamente o contrário disso.
Sou tão pessoa quanto Pessoa e o paradoxo não é meu, sou eu. Preciso juntamente desta barulheira infernal de pessoas insistindo em nadar contra os fatos, ao mesmo tempo que se silenciam no seu íntimo por estarem certas que não são lá grande coisa. Trabalhar numa escola, é interessante. É quiçá a única instituição que traduza veementemente o que é o mundo de verdade. Um microespetáculo de conflitos, problemas, interesses... com uma pitada de senso de humor. E não há como mudar isso dentro de mim. Eu gosto de trabalhar com a repulsa e a atração ao mesmo tempo.
As pessoas perguntam se eu quero mudar o mundo. Eu não vou conseguir, mas tem gente que consegue. Mudar o mundo, para mim, é quem tem a capacidade de agir com procedimentos discursivos ou atitudinais bons o suficiente para que você coce a cabeça, cerre um pouco os olhos e solte a frase interjetiva:
"Puxa, é mesmo!"
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Rosana