Pular para o conteúdo principal

Uma palavra pela outra.

-Jura!?
- Juro. É tudo o que eu sempre quis.
- Tipo o quê?
- Me dá carinho, me dá atenção, me faz rir.
- Mete bem?
Espanto:
- Em !?
Cara de coisa mais normal do mundo:
- Perguntei se faz o serviço direito.
Alteração nas sobrancelhas:
- Eu aqui falando de amor e você vem me falar em putaria?
Serenidade:
- É lógico que não. Desde quando sexo é putaria? ... Tá, eu entendo que vulgarizam isso às vezes...
Interrompe:
- ... Ainda mais quando usam termos chulos, feito "meter"
Pequena alteração:
- Ai! Enjoei desse seu puritanismo, sabe!? É só uma palavra diferente pra designar a mesma coisa. Se eu tivesse falado trepar, foder, comer, pimbar, transar... daria no mesmo!
- Chega!
- Chega nada! ... Do mesmo jeito que se eu tivesse perguntado "relaciona-se bem?" "executa o ato com maestria?" Dá tudo no mesmo.
Pequena pausa, réplica:
-Eu só não te dei liberdade pra tratar o MEU sexo por esse termo. O teu você trata como quiser, o meu não.


Marcelo entrou na estação de Metrô do Anhangabaú. Olhou pro celular "16:02", tinha tempo. Procurou pela fila do lugar em que se compram os bilhetes pro metrô. Vazia. Pegou com cuidado a carteira do bolso da frente e contou moedas: não tinha R$ 2,70 certeiros. Sobrava apenas a última nota de 50. Com mais cuidado ainda, aperta-lhe na mão, é o próximo a ser atendido.
- Eu quero uma.
O homem do guiché tinha uma expressão séria, inabalável, de repulsa e total vontade sair correndo daquele lugar. É claro que ele queria uma, ou duas ou tanto faz. Passasse o dinheiro de vez, ou ele seria obrigado a falar quanto custava? Viu que seria, apesar de vistosos e gigantescos letreiros informando o valor da passagem de metrô. Apesar de todo mundo em São Paulo saber quanto custa UMA passagem. Mesmo assim, o rapaz na frente dele mantinha a mesma cara vazia e de sorriso forçado. Devia ser do interior... é lá que riem assim feito idiotas. Deu-se por vencido:
- Dois e setenta.
Pronto! Tudo correra como o planejado. Marcelo triunfante pegou os cinquenta e passou pelo pequeno espaço. Agora seria a hora de soar simpático e, meio de viés, pedir desculpa por não facilitar o trabalho do cara, obrigando-lhe a contar quantas notas fossem necessárias ao devolvê-lo a diferença. Mas nem tudo sai como planejado, houveram lapsos na fala do rapaz:
- Eu só to sem troco, cara...
Era a iminente chance daquele homem da bilheteira se vingar do patético mocinho do interior.
- Troco é o que eu vou te dar, você está sem trocado.
E restituiu-lhe a diferença.




Ajoelhou-se, tirou uma pequena caixinha do bolso. Fitou-a com paixão e fulgor, tomou um fôlego e arriscou:
- Roberta, vamos juntar nossos trapos?
A moça no início do processo já preparava sua reposta positiva, ao ver o amado ir ao chão, procurar pelas alianças... quase disse o "sim" ao ouvir o "Roberta" no início da frase. Mas engolira em seco... "Juntar nossos trapos" !?
Fez-se poucos segundos de pausa. Que pra Roberta pareceram dois minutos e pra Adriano duas horas.
Ela só cuidava em pensar uma coisa: como Adriano podia ter estragado um dos momentos mais especiais da sua vida? Não podia dizer a frase padrão, como faz todo mundo, e como é deliciosamente romântico? "Quer casar comigo?" ou até um despretensioso e fofo "Casa comigo?"... mas JUNTAR TRAPOS!? Ela não era rota pra andar por aí em trapos. Ela não é colcha pra juntar retalhos.
Ele só cuidava em olhar nos olhos da amada, sem nem a vaga ideia do que acabara de dizer, pra ele foi um pedido normal, aliás, se fosse contar pra alguém contaria com a frase padrão. De fato o que passava na mente do rapaz é que a amada titubeava, e isso foi o calvário.
O silêncio finalmente fora quebrado, Roberta voltou a si:
- Não.
E continuaria sendo "Não" enquanto tudo não corresse nos conformes. Onde já se viu? Daí na hora da pergunta do padre ele responde "Afirmativo" !? Ela não teria brio o suficiente pra aguentar outra, na certa enfartaria, ela precisava mudar isso o quanto antes.



- Clica lá no vídeo. Banda "Rockers", acho que a música é "Rage Lovers".
- Cliquei... Nossa!... Que massa!
- Legal mesmo, !
- Sim!! Adorei isso que ela faz no final da estrofe. É lindo de se ouvir. Como chama mesmo?
- Voz.

Comentários

Líviarbítrio. disse…
hHAhhahaha...

É de dar boas gargalhadas.

Cada trecho mais interessante que outro.

Adorei, beijos.
Tiago Faller disse…
HasuhashasuhhasuhasuH!

Tua cara, piá... Estava com saudade de ler seus devaneios. =)
Lina. disse…
Devaneios tolos: humor inteligente no blogspot!

haha!

Adorei, nego!
Raooh disse…
Ri do cara do metrô
Tamires Oliveira disse…
kkkkk' adorei cada um ... é disso que eu gosto em suas palavras, a simplicidade e o bom humor (:

Postagens mais visitadas deste blog

Pão, pão; queijo, queijo.

- Então é isso, Celina? É pão, pão; queijo, queijo?... Eu bem vejo como você é determinada, como é cheia de preceitos e, sabe, isso é bonito de ver, Celina. Gente assim tá em falta no mundo, de verdade. Gente que sai, que escuta os outros, que pensa sobre as atitudes e que depois não arreda pé daquilo que determina. Eu não, Celina,  eu sou um bundão. Todos os dias eu saio por aí tentando colecionar afetos depois que você me deixou. Não é que eu esteja te culpando, Celina, logo você que é tão compreensível. Eu só saía por aí tentando ser uma daquelas pessoas que conquista todo mundo com um sorriso, uma palavra doce, igualzinho a você. Eu queria ser você. Só que não adianta, não é verdade, Celina? Não adianta a gente querer mudar o que é de verdade, além de bundão, eu sou um turrão. Só me compram depois que lêem da página dois pra lá; contigo não, você é tão cheia de si, tão dona do sorriso mais sincero que eu já vi. Na verdade eu queria você pra ser um pouco como você. Eita menina d...

O post do alcólatra

Situação: álcool na sexta e no sábado. Sábado é hoje, álcool presente contínuo. Decido por fazer a experiência de postar em tais moldes, veremos.Gostaria de dicertar sobre ontem. Tudo começa com a extrema irritação proveniente da convicência com outros seres-humanos ao longo do dia todo. Brigas e mais brigas, discuções, vontade de mandar ir tomar no cu pois minha vida é minha, se é que me entendem. Mas daí. Veio o encontro casual. Pessoas que estavam predestinadas a estarem lá naquela hora e naquele local. Revelações que apenas esperavam a oportunidade pra serem confirmadas, pois todo mundo já sabia de todo mundo. Diversão. Adrenalina. Flerte. Luxúria. Vergonha. Despreocupação. Casa. Xingo. Ressaca e dores genitais. Chega o sábado. Mentiras vão, mentiras vêm. Desculpas esfarrapadas que colam muito bem são dadas. Orgulho. Aniversário de irmã. Festa "surpresa". Carro de telemensagem. Declaração de amor. Falando em amor, o amor da vida estava presente. Contei todo o ocorrido no ...

Hierarquia de sentimentos

Às vezes eu me pergunto se dentro dos sentimentos existe uma certa hierarquia. Algo como uma escala, que mensura qual tipo de sensação lhe fará sofrer mais e menos. O que é besteira da minha parte, porque nem tudo cabe padronizar.  É aí que eu entendo o conceito de subjetividade. É quando você compreende o que é sofrer tanto que parece que não cabe mais dor dentro de você, mesmo que fisicamente não exista um arranhão. O choro é como se fosse um túnel estreito por onde se dá vazão às melancolias confinadas a sete chaves dentro do peito. Quanto mais velhos ficamos, mais aprendemos a domar estas dores. Constrói-se uma dura parede em volta daquilo que já enjoamos de sofrer. Gasta-se muito esforço, pra tentar viver sem tentar se preocupar. Mas basta um pequeno empurrão, um gatilho oculto, uma coisa que vem de onde e de quem menos se espera e que faz com que tudo aquilo guardado volte à tona e que você sofra com coisas que não faz mais sentido sofrer e chore pra compensar tudo aqu...