Pular para o conteúdo principal

Entrelinhas de um criado mudo.

Eu acho que tenho certeza daquilo que eu quero agora; daquilo que mando embora;
daquilo que me demora.
Eu acho que tenho certeza daquilo que me conforma; daquilo que quero entender
e não acomodar com o que incomoda.
Não acomodar com o que incomoda,mas...
Acordava do mesmo jeito de sempre: feio, descabelado e sem um pingo de vontade de viver.
Vivia do mesmo jeito de sempre, também pudera, sua vida era completamente sem graça... Pra ele!
Descrevia-se na terceira pessoa, por achar bonito. Dizem que essa mania não passou ainda, não por enquanto. Era vago em suas palavras, pra não se denunciar, não se expor, não ter que dar satisfações.
Brigava constantemente com quem mais amava, amava constantemente quem mais brigava.
Chorava.
Sentava em frente uma máquina praticamente todos os dias da sua vida, o dia todo, aproveitando dela apenas as pessoas que faziam o mesmo.
Precisava de um banho frio, um espelho, uma surra do destino. Precisava de distância de casa.
Reencontrou a si mesmo. Via uma criança que deixou de lado seus brinquedos pra viver uma vida muito perigosa. Via que deixara sua melhor companhia pra trás.
Viu seu sonho dos onze anos. Tudo o que queria ser jogado ao léo, pois concluiu o melhor possível: desistir de um sonho não é deixar de lutá-lo, mas sim deixar de fazer o que está a seu alcance, paulatinamente, no empenho de realizá-lo.

E quando eu vou, é quando eu acho que: onde é que eu tô é pouco e tanto faz.
Seja o que for, seja o que surge e some.
Seja o que consome mais.
Seja o que consome mais.
Faz...

Num belo dia, decidiu fazer a maior loucura geográfica da vida dele, e foi. Viu o que precisava ser visto: si próprio.
Precisou reconhecer algo parecido com que se tornaria se não tivesse abandonado suas convicções no meio do caminho. Veio uma dor tão grande, porém não aquela que lateja. Era uma que gritava sem voz dentro dele mesmo. Masoquismamente amou sentir aquilo.
Ver-se depois de tanto tempo, foi como encontrar aquele álbum de fotos há muito esquecido dentro de uma gaveta, folhear foto por foto e consumir seu passado. Já sabia o que faltava pro futuro. Só lhe faltava FAZER!

E a historia que nem passou por nós direito ainda, pr'onde é que foi?

Comentários

Tiago Faller disse…
Simplesmente PERFEITO!

"A gente vai olhar pra trás e rir disso tudo ainda..."
realmente, como tu me descreveu... Li alguém que dizia que o inferno estava nos outros, pois neles achamos nossos próprios erros, são espelhos; mas acredito também que o mesmo acontece com o 'paraíso', este que também se encontra no outro, do mesmo modo que o inferno.
Sei que aproveitou o máximo, e me alegro de ter conhecido o Marcelo.
Líviarbítrio. disse…
A coragem está em todos os nossos atos, sejam eles bons ou falhos.

Sempre penso em como sou e conheço-me tão pouco.

Adorei o texto, ;)
Anônimo disse…
o texto tão bonito que eu nem consigo achar palavras pra comentar.

to shorand (':

Postagens mais visitadas deste blog

Pão, pão; queijo, queijo.

- Então é isso, Celina? É pão, pão; queijo, queijo?... Eu bem vejo como você é determinada, como é cheia de preceitos e, sabe, isso é bonito de ver, Celina. Gente assim tá em falta no mundo, de verdade. Gente que sai, que escuta os outros, que pensa sobre as atitudes e que depois não arreda pé daquilo que determina. Eu não, Celina,  eu sou um bundão. Todos os dias eu saio por aí tentando colecionar afetos depois que você me deixou. Não é que eu esteja te culpando, Celina, logo você que é tão compreensível. Eu só saía por aí tentando ser uma daquelas pessoas que conquista todo mundo com um sorriso, uma palavra doce, igualzinho a você. Eu queria ser você. Só que não adianta, não é verdade, Celina? Não adianta a gente querer mudar o que é de verdade, além de bundão, eu sou um turrão. Só me compram depois que lêem da página dois pra lá; contigo não, você é tão cheia de si, tão dona do sorriso mais sincero que eu já vi. Na verdade eu queria você pra ser um pouco como você. Eita menina d...

O post do alcólatra

Situação: álcool na sexta e no sábado. Sábado é hoje, álcool presente contínuo. Decido por fazer a experiência de postar em tais moldes, veremos.Gostaria de dicertar sobre ontem. Tudo começa com a extrema irritação proveniente da convicência com outros seres-humanos ao longo do dia todo. Brigas e mais brigas, discuções, vontade de mandar ir tomar no cu pois minha vida é minha, se é que me entendem. Mas daí. Veio o encontro casual. Pessoas que estavam predestinadas a estarem lá naquela hora e naquele local. Revelações que apenas esperavam a oportunidade pra serem confirmadas, pois todo mundo já sabia de todo mundo. Diversão. Adrenalina. Flerte. Luxúria. Vergonha. Despreocupação. Casa. Xingo. Ressaca e dores genitais. Chega o sábado. Mentiras vão, mentiras vêm. Desculpas esfarrapadas que colam muito bem são dadas. Orgulho. Aniversário de irmã. Festa "surpresa". Carro de telemensagem. Declaração de amor. Falando em amor, o amor da vida estava presente. Contei todo o ocorrido no ...

Hierarquia de sentimentos

Às vezes eu me pergunto se dentro dos sentimentos existe uma certa hierarquia. Algo como uma escala, que mensura qual tipo de sensação lhe fará sofrer mais e menos. O que é besteira da minha parte, porque nem tudo cabe padronizar.  É aí que eu entendo o conceito de subjetividade. É quando você compreende o que é sofrer tanto que parece que não cabe mais dor dentro de você, mesmo que fisicamente não exista um arranhão. O choro é como se fosse um túnel estreito por onde se dá vazão às melancolias confinadas a sete chaves dentro do peito. Quanto mais velhos ficamos, mais aprendemos a domar estas dores. Constrói-se uma dura parede em volta daquilo que já enjoamos de sofrer. Gasta-se muito esforço, pra tentar viver sem tentar se preocupar. Mas basta um pequeno empurrão, um gatilho oculto, uma coisa que vem de onde e de quem menos se espera e que faz com que tudo aquilo guardado volte à tona e que você sofra com coisas que não faz mais sentido sofrer e chore pra compensar tudo aqu...