Pular para o conteúdo principal

Distant Worlds



Enquanto Edgard saía para trabalhar, contemplava o céu e as formas abstratas púrpuras de mexilhão de nuvens. Edgard sabia que no mundo distante do seu Alice olhava o mesmo céu... com outras gravuras, outras vontades, outros gritos pitorescos de imagens naturais próprias desse mundo, ainda sim de mundos diferentes.
Alice sentada no meio fio olhava carro por carro à medida que chiava baixo pela demora do ônibus. Forçando a vista para discriminar o número 11 do 14, sem querer olhou o alto da ladeira, e de lá viu o horizonte, e do horizonte o céu, e do céu as nuvens. Pensou em Edgard e no mundo dele, no desconhecido mesmo mundo dela.
Alice conheceu Edgard por carta. Sim, por carta. Certo dia, o rapaz comprou um produto bem cretino de uma empresa longe - bem longe ... em outro estado! - e ao notar o mal funcionamento mandou uma carta para a empresa; muito mal criada, diga-se, na qual reclamava de sua aquisição. Truque do destino é que Alice era vizinha da tal empresa, e Edgard confundiu o número do endereço da empresa "11" com o "14" da casa de Alice. O fato é que a moça não gostou nada do que lera e mandou a represália para o destinatário, dizendo que o azar era dele por comprar de um lugar tão longe e que tivesse mais discernimento entre onzes e catorzes.
A tréplica do moço foi seca: "Desculpa moça louca do 14... PS: Não quero gastar mais selos com você, meu e-mail é blablabla@mimimi.com". Jogada de mestre, aliás! Vai que a moça fosse potencialmente bonita. E era. E danou-se!
Internet sendo um céu azul-bebê-orkut, cheio de nuvens imaginárias! É um céu vazio, talvez até de cor, que a gente pinta como quer. Eles pintaram-se, completaram-se um ao outro, ao bel prazer. Da maneira que acharam que devia ser tal detalhe um do outro. Riam quando acertavam, surpreendiam-se positivamente quando erravam. Eram dois seres na frente de uma máquina sem entender nada de si mesmos. E por estarem ambos nessa busca incessante pelo "eu", encontraram o "eu e você". É , de certa forma, o que acontece com as pessoas que se conhecem em presença física, só que com a diferença de pintarem-se um ao outro com a cor da própria paleta.
Edgar entrou no trabalho, Alice foi para a escola. Pensavam no distante amor às vezes, e tão mais às vezes isso era bom, e tão tão mais às vezes isso era ruim. O futuro para eles era a maior incógnita, tal qual a distância que teriam que percorrer para se verem, se tocarem... se amarem!
Dois mundos tão distantes, morando no mesmo mundo, intersecando-se, compondo-se. No fundo, no fundo mesmo, só sabiam de uma coisa: mais do que serem distantes, eram mundos!

Comentários

Tiago Faller disse…
Como um flash em minha mente, vejo algo estranhamente conhecido e vivido.

Sempre ótimo em seus posts, queride!

Abraços...
Bárbara Araujo disse…
Adoro seus textos e amo você.
Líviarbítrio. disse…
Quando você volta, volta com tudo!

"E por estarem ambos nessa busca incessante pelo 'eu', encontraram o 'eu e você'."
Busco isso o tempo todo, mas é tão real...

Lindo meu bem.
Volte logo várias vezes. ;)
Fê Colcerniani disse…
Nossa, não conseguia parar de ler... e nem tinha tempo pra ler... mas li, tudo e amei... Fantástico... vc é surpreendente!
Líviarbítrio. disse…
êêêêêê ;)
Saudades das suas palavras por aqui.

Beijos.
Tiago Faller disse…
Emocionei relendo e ouvindo a música, só pra constar, ok, menine das belas palavras?

Postagens mais visitadas deste blog

Pão, pão; queijo, queijo.

- Então é isso, Celina? É pão, pão; queijo, queijo?... Eu bem vejo como você é determinada, como é cheia de preceitos e, sabe, isso é bonito de ver, Celina. Gente assim tá em falta no mundo, de verdade. Gente que sai, que escuta os outros, que pensa sobre as atitudes e que depois não arreda pé daquilo que determina. Eu não, Celina,  eu sou um bundão. Todos os dias eu saio por aí tentando colecionar afetos depois que você me deixou. Não é que eu esteja te culpando, Celina, logo você que é tão compreensível. Eu só saía por aí tentando ser uma daquelas pessoas que conquista todo mundo com um sorriso, uma palavra doce, igualzinho a você. Eu queria ser você. Só que não adianta, não é verdade, Celina? Não adianta a gente querer mudar o que é de verdade, além de bundão, eu sou um turrão. Só me compram depois que lêem da página dois pra lá; contigo não, você é tão cheia de si, tão dona do sorriso mais sincero que eu já vi. Na verdade eu queria você pra ser um pouco como você. Eita menina deter

Conselho X Consciência.

Perguntei: - Não quero mais viver assim! O que eu faço? Socorro! Responderam: - Se ela voltar com isso, chama num canto, estufa o peito e manda a real. Nem que suas próprias palavras lhe machuquem. Sou uma vergonha pra classe teatral.

Pleno Quotidiano XI

Cena 9 ( rua em frente à faculdade, Gabriella está parada encostada num poste, Marcos chega) Marcos : -Tchau, Gabi. Gabriella : - Gabi? Marcos :- (assustado) ...É. Gabriella : - Nossa! Marcos : - Que foi? Não pode te chamar assim? Gabriella : - Pode. É que eu me assustei. Sei lá, acho que é a terceira vez que conversamos. Marcos : - Então precisa de intimidade pro apelido. Gabriella : -Não. Marcos : - Você está se contradizendo. Gabriella : - Não importa. Marcos : - Não mesmo. ( Gabriella joga o fichário no chão) Marcos : Que foi? O que você tá fazendo? Gabriella : - Se se contradizer não importa, estou eliminando duas regras que se contradizem. A que diz pra eu ser eu mesma, e a que diz que eu não posso me insinuar pra você. ( Gabriella agarra-o e beijam-se) Marcos : - Nunca gostei de regras. Gabriella : - Gosta sim. Diz que não porque não sabe aplicá-las. Marcos :- (ri) Não conhecia essa sua veia cômica, Gabriella. Gabriella : -Gabi. Marcos : - Quê!? (Gabriella beija-o de novo) (B.O