Pular para o conteúdo principal

Se eu quiser falar.

- Toma uma cadeira.
- Oi?
- Senta.
- Ah, sim!
- Pois não?
- Estou com um problema. Na verdade um não, são vários que compõem um maior.
- Eu sei. Mas vou fazer que não...
- Por favor. Essa conversa e futuro texto têm de ter o desprendimento de uma consulta.
- De um desabafo.
- De quê?
- Na verdade você quer desabafar e só não encontrou como. Então quer escrever, como sempre.
- Olha, não dá pra fazer assim não... se você começar a revelar meu subconsciente logo agora, vai ficar difícil de desenvolver o papo.
- Sim. Só fiz pra descontrair... mas, prossiga. Qual é mesmo o seu problema?
- Eu não gosto de mim.
- Disserte.
- Assim... até gosto, sabe? Não é que eu vá me jogar na frente de um carro ou bater o meu de propósito amanhã, não é esse instinto suicida, não.
- Você não é suicida. Se fosse, nossa conversa seria totalmente outra.
- Pois então. O problema é que tem coisa demais em mim que eu não gosto e que queria mudar.
- Então muda.
- HÁ! NÃO ME VENHA VOCÊ, JUSTO VOCÊ, MANDAR UMA DESSA “ENTÃO MUDA” COMO SE FOSSE ASSIM INSTANTÂNEO
- Tá gritando na discussão. Gosto muito quando você faz isso.
- Desculpa, foi sem querer.
- Só nós dois gostamos quando você faz isso. Portanto, não é sem querer. Você sabe das consequências, mas gosta de reafirmar seus defeitos sutilmente, sem que percebam que é algo calculado. Sua voz alta é sua marca.
- Tá, tá, tá bom... o foco não é esse. Lembra aquele papo de mudar e de não ser tão fácil assim?
- Claro.
- É isso, sabe? Grosso modo eu modifico algumas atitudes e não ajo sob maldade, não que eu note, só que eu tenho a sensação de estar incomodando ou ofendendo alguém desde quando eu acordo, até o instante de ir dormir. E incomodo também durante o sono. A cada passo, atitude – ou falta de – estou sendo julgado e apontado.
- Ninguém esta livre de julgamento, você é uma das pessoas que conheço que mais diz isso, inclusive em seus conselhos.
- Eu sei, eu sei, eu sei... Não tem a ver com o que as pessoas ACHAM de mim ou a opinião delas sobre minha índole. Aliás, dane-se, é que tem gente que importa demais se importando demais.
- Gostei da frase.
- Obrigado. Bem... Acho que é isso tudo, sei lá.
- Certo. Vou explicar bem detalhadamente, espero que você entenda de primeira: você gosta de você mesmo sim, só fica falando isso pra se eximir da culpa. Você não gosta é do fato das pessoas gostarem de você. De te amarem e esperarem isso em troca. Detesta essa possibilidade. O julgamento delas sobre você, de fato, pouco importa, mas sim o modo como elas irão conceber suas atitudes dentro da convivência. Resumindo, você tem verdadeira antipatia à obrigação de agradar as pessoas.
- É exatamente isso. E você disse “Então muda.”. Eu lhe pergunto, como?
- Você tem de aprender a falar comigo, inicialmente. É até um passo bacana esse que você deu agora, mas você tem de se encher mais de certezas. Não que tudo tenha um único ponto correto, adoro a relatividade, você sabe.
- Sei.
- Enfim, a maioria é coisa da sua cabeça e o medo que você sempre teve de encarar as coisas, apesar de querer deixar claro a todo mundo a não existência desse temor. Você seleciona o que é menos impactante e manda brasa, porém não é bem assim. Resolva tudo o que está ao alcance, mas nem sempre com uma conversa franca e com tomada de partido; vá aos poucos convencendo com atitudes e fatos muito mais do que com palavras. Com o tempo, o fardo da responsabilidade com os outros vai diminuindo.
- Não sei se eu vou conseguir isso tudo, é difícil.
- Claro que é, mas você é forte, sabe que é, e adora admitir isso sutilmente.
- HAHAHAHAHA!
- Agora eternize isso tudo e seja feliz. Foi pra isso que te criei.
- Obrigado, acho que adiantou bastante. Até.
- Até.

Comentários

Letícia Gatto disse…
eu já lhe disse isso inúmeras vezes, mas irei repetir: seus textos sempre parecem ler a minha mente, e acabam colocando em palavras aquilo que eu já nem consigo mais expressar.
ah má, que lindo, lindo, lindo!

é sempre um prazer....
beijos

Postagens mais visitadas deste blog

Pão, pão; queijo, queijo.

- Então é isso, Celina? É pão, pão; queijo, queijo?... Eu bem vejo como você é determinada, como é cheia de preceitos e, sabe, isso é bonito de ver, Celina. Gente assim tá em falta no mundo, de verdade. Gente que sai, que escuta os outros, que pensa sobre as atitudes e que depois não arreda pé daquilo que determina. Eu não, Celina,  eu sou um bundão. Todos os dias eu saio por aí tentando colecionar afetos depois que você me deixou. Não é que eu esteja te culpando, Celina, logo você que é tão compreensível. Eu só saía por aí tentando ser uma daquelas pessoas que conquista todo mundo com um sorriso, uma palavra doce, igualzinho a você. Eu queria ser você. Só que não adianta, não é verdade, Celina? Não adianta a gente querer mudar o que é de verdade, além de bundão, eu sou um turrão. Só me compram depois que lêem da página dois pra lá; contigo não, você é tão cheia de si, tão dona do sorriso mais sincero que eu já vi. Na verdade eu queria você pra ser um pouco como você. Eita menina deter

O post do alcólatra

Situação: álcool na sexta e no sábado. Sábado é hoje, álcool presente contínuo. Decido por fazer a experiência de postar em tais moldes, veremos.Gostaria de dicertar sobre ontem. Tudo começa com a extrema irritação proveniente da convicência com outros seres-humanos ao longo do dia todo. Brigas e mais brigas, discuções, vontade de mandar ir tomar no cu pois minha vida é minha, se é que me entendem. Mas daí. Veio o encontro casual. Pessoas que estavam predestinadas a estarem lá naquela hora e naquele local. Revelações que apenas esperavam a oportunidade pra serem confirmadas, pois todo mundo já sabia de todo mundo. Diversão. Adrenalina. Flerte. Luxúria. Vergonha. Despreocupação. Casa. Xingo. Ressaca e dores genitais. Chega o sábado. Mentiras vão, mentiras vêm. Desculpas esfarrapadas que colam muito bem são dadas. Orgulho. Aniversário de irmã. Festa "surpresa". Carro de telemensagem. Declaração de amor. Falando em amor, o amor da vida estava presente. Contei todo o ocorrido no

Conselho X Consciência.

Perguntei: - Não quero mais viver assim! O que eu faço? Socorro! Responderam: - Se ela voltar com isso, chama num canto, estufa o peito e manda a real. Nem que suas próprias palavras lhe machuquem. Sou uma vergonha pra classe teatral.